sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Vento e os "ventos"...


Por Marcelo Lemos


Antes, um testemunho publicado no Blog Ana Paula Valadão. A “visão” é contada por uma fã do ministério Diante do Trono.

“Há 6 meses sonhei que estava chegando na Lagoinha e havia um rebuliço na porta, porque o Pr. Márcio tinha mandado arrancar todos os bancos e colocado toda a equipe pastoral na porta com uma bacia de álcool gel e pente fino. E as pessoas que chegavam só podiam entrar no templo depois de deixar a equipe passar pente fino em suas cabeças. E só podiam entrar no templo depois de tirar os sapatos.

Tudo isso porque o Senhor tinha dito ao Pr. Márcio que a Glória dEle estava debaixo dos bancos, que o povo estava sentado sobre a Glória de Deus. E ao passarmos o pente fino na cabeça das pessoas, saíam muitos piolhos, até da cabeça dos homens que estavam careca. Mas aqueles que deixavam, que obedeciam, tiravam os sapatos e entravam, não conseguiam ficar de pé, engatinhavam no templo, tamanha era a Glória de Deus ali. ...

No Congresso, ouvi do pastor da Finlândia uma palavra semelhante, ele disse também que haverá dias que as pessoas entrarão engatinhando no templo.

Glorifiquei muito a Deus por isso… Quando ele te tocou e você [Ana Paula Valadão] foi para o chão, depois o Pr. Márcio, e ele chamou a Igreja para se arrepender, vi muitas pessoas entrando debaixo dos bancos, e estes levaram a Glória de Deus… mas isto foi só o começo, vai ter que humilhar mais…”.

O anglicano J.C. Ryle, bispo de Liverpool, escreveu: “Dizem que na Escritura há algumas passagens que merecem ser impressas em letras de ouro”. Acredito que S. João 3.8 faça parte dessa categoria. “O Vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabe donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”.

É possível que a conversa com Nicodemos tenha se dado em uma “varanda”, um costume naqueles dias. Além disso, possivelmente era uma noite tranquila de Primavera (pois se aproximava a Páscoa). Neste caso, nossos dois personagens sentiam correr a brisa marinha, como é comum em Jerusalém. Aquele vento suave e tranquilo que se levanta, e de repente, sussurra ao longo das ruas estreitas, esgueirando-se por varandas e frestas de portas. De onde vem? Para onde vai?

A existência do vento se prova no que ele faz. Todavia, não somos capazes de coloca-lo em nossos tubos de ensaio. Não o controlamos. Assim é a vida que o Espírito produz. Assim é o Vento. “Como pode o homem já velho, voltar a entrar no ventre de sua mãe e nascer de novo” – é a pergunta de Nicodemos. Não de pode dominar o Vento, não se pode captura-lo pelas lentes de nossos microscópios. Os seus frutos testificam que ele é e faz. Ele pairava sobre o “vazio e sem forma” e deu ordem ao caos! Ele desceu sobre a Virgem e a faz mãe do Deus Encarnado! Ele discerne entre as nuvens mais escuras do ser, e por nós intercede com “gemidos inexprimíveis” ! E ao homem morto em delitos e pecado, ele vem como “Espírito que vivifica”! Como pode ser isso?

Apenas é. Não produzimos um novo nascimento; não produzimos poder espiritual; não produzimos dons e talentos. Apenas isso: o Vento sopra. “E, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados” (Atos 2.2).

Mas, vale lembrar, há o Vento e há “os ventos”. Talvez não seja fácil discerni-los, daí o perigo inerente. A Bíblia nos fala de ambos, o Vento e os “ventos”.  

“Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, o varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente” (Efésios 4.1-14).

Levados em roda por todo vento de doutrina. Não é o Vento, nem um vento, mas muitos: "todo vento". São “ventos” de doutrina. E são perfeitamente identificados, sabemos suas origens: “pelo engado dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente”. De onde vem? Para onde vai? O sabemos!

Os “ventos” são previsíveis. Os “ventos” são controlados por homens. São assim, mesmo quando tentam se passar por Vento! Contudo, não resistem a mais simples das comparações. O Vento é singular, inimitável, e incomparável.

Vejamos suas imitações; uma ou duas bastarão. Francis MacNutt, ex-padre católico e  popular praticante da arte de “cair no Espírito”, em seu livro Overcome by the Spirit declara que tal prática é muito parecida com “as manifestações de vudu e outros rituais mágicos”, e pode ser encontrada “hoje  entre tribos primitivas da África e América Latina”. Vamos frisar que MacNutt defende a prática de “cair no Espírito”. Tal confissão nos faz lembrar um episódio que aconteceu com o missionário sueco Gunnar Vingren, pioneiro das Assembleias de Deus no Brasil. Em 1923 Vingren foi informado de um movimento “pentecostal” que se dava em Santa Cataria, no qual, dentre outras coisas, ocorria o “cair no Espírito”. Ainda que fervoroso pentecostal, o pioneiro anatemizou o movimento: “Não se tratava de pentecostes, mas de feitiçaria e baixo espiritismo”.

Sem liturgia, sem intervenção humana. Assim ocorre cada um dos 11 exemplos de pessoas que “caíram” diante da glória de Deus nos registros Bíblicos. Diante da glória de Deus, manifestada fisicamente, seus servos, assombrados, prostravam-se com o rosto no pó! Era o Vento! Sem liturgia; sem frases de efeito; sem baterias e tambores que disparam adrenalina; sem assistentes de palco para evitar bater a cabeça; sem qualquer intervenção humana – era o Vento!

“Como aspecto do arco que aparece na nuvem no dia da chuva, assim era o aspecto do resplendor em redor. Este era o aspecto da semelhança da glória do SENHOR; e, vendo isso, caí o meu rosto e ouvi a voz de quem falava” (Ezequiel 1.28).

Entretanto, não existe nenhum caso de “cair no Espírito” nos registros bíblicos. As pessoas prostravam-se diante da glória de Deus, e não por estarem possuídos pelo Espírito Santo. Uma outra passagem do Profeta Ezequiel provará este ponto: “E a mão do SENHOR estava sobre mim ali, e Ele me disse: Levanta-te e sai ao vale, e ali falarei contigo. E levantei-me e saí ao vale, e eis que a glória do SENHOR estava ali, como a glória que vi junto ao Rio Quebar; e caí sobre o meu rosto” (Ezequiel 3.22,23). Ao contemplar a Glória do Senhor o profeta, evidentemente, prostra-se, desfalece! Este é o efeito inevitável da glória do Senhor sobre o homem! Tão devastadora é Sua presença que Isaías diz: “Ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos” (Isaías 6.5).

Depois de ser atingido pela glória de Deus, o profeta Ezequiel é, então, invadido pela presença do Espírito Santo. Não foi o Espírito que o fez se prostrar, o Espírito o levantou: “Então, entrou em mim o Espírito, e me pôs em pé, e falou comigo!” (Ezequiel 3.24).

Também não se trata de uma "glória" invisível, mas física, real e visível!

O “cair” que vemos em nossos dias não é o Vento. O Vento esteve no Dia de Pentecostes (Atos 2.2); na casa de Cornélio (Atos 10.44-47); e entre os discípulos em Éfeso (Atos 19.6). Ali o Vento fez o imprevisível, como anunciar a salvação também aos gentios (Atos 10.45). Assim é o Vento. Porém, o  “cair” que hoje vemos nunca esteve onde esteve o Vento! Não é o Vento, hoje, o mesmo Vento de Atos dos Apóstolos?

Ainda mais bizarro, mas não menos popular, é o nosso segundo exemplo. Estamos falando dos “pontos de contato”, objetos utilizados para despertar a fé das pessoas. Não há limites para a imaginação nesta área. A coisa começa com “bugigangas” e termina com “rituais milagrosos”. Assim como o “cair no Espírito” tem seu paralelo no baixo espiritismo, os chamados “ponto de contato” também.

Agua consagrada (ou ungida); sabonete ungido; rosa consagrada; cajado da prosperidade; bolo da multiplicação; lenço ungido... Onde esperamos encontrar tais coisas senão nos rituais do baixo espiritismo? Entretanto, líderes professamente cristãos nos têm ofertado tais coisas como sendo o Vento!

A “Campanha do Lenço de Paulo” foi um evento muito divulgado por certa agremiação neopentecostal recentemente.  O título da campanha faz menção a um dos episódios bíblicos utilizados para justificar o uso de “pontos de contato”. “E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia maravilhas extraordinárias, de sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam” (Atos 19.11,12).

Mais uma vez de distingue o Vento dos “ventos”. O Vento não cria mercado, não marca hora e nem lugar. Os “ventos” são Trade  Maker, e ousam controlar “onde”, “como” e os “porquês”. O Vento atuou de modo “extraordinário” (v.11), fora do comum. Já os “ventos” pretendem controlar o Vento, mas não podem: “E alguns exorcistas judeus, ambulantes, tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega” (v.13). Destes até os espíritos malignos zombam: “Conheço a Jesus e bem sei quem é Paulo; mas vós, que sois?” (v.15).

Observe-se que o Vento atuava de modo “extraordinário”, ou seja, fora da normalidade – isto acontecia justamente para validar a pregação apostólica. A atuação extraordinária [incomum] do Espírito Santo servia como prova de que o ensino apostólico era verdadeiro: “Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós, como toda paciência, por sinais, prodígios e maravilhas” (II Coríntios 12.12). Outros cristãos também eram usados por Deus para curar enfermos e expulsar demônios, mas havia uma extraordinariedade na atuação apostólica, que validava sua pregação, e não podia ser reproduzida por outros, nem controlada. Era o Vento! Se tudo aquilo fosse “comum”, disponível a qualquer pessoa, inclusive cristãos, não serviria para diferenciar o ministério apostólico!

A diferença entre o que aconteceu extraordinariamente com os apóstolos, e o culto “ordinário” e “programado” promovido pelos curandeiros de hoje, está na mesma proporção da diferença entre Deus e os ídolos. Os curandeiros de hoje, ainda se ‘evangélicos’, anunciam seus poderes, seus pontos de contato, e suas alegadas proezas. Já os apóstolos de Cristo anunciavam a Cruz, o Arrependimento e a Fé. Os milagres eram um bônus ofertado pelo Vento. Os apóstolos eram agraciados pelo Vento, os curandeiros tentam controla-lo com “ventos”.

Don Stewart, ministro pentecostal, é um dos magos que tentam controlar o Vento. Poderíamos citar vários outros, desde Benny Hinn  até Valdomiro Santiago. Escolhemos Stewart por ser emblemático. É dele o afamado Green Prosperity Prayer Handkerchief. Numa tradução livre teríamos algo como “O Lenço Verde da Oração Próspera”. O ministério de Stewart esclarece aos interessados: “Don Stewart coloca sua mãos sobre os Lenços Verdes da Oração Prospera e ora por eles. O mais rápido possível o lenço é enviado para você. Assim como aconteceu com o Apóstolo Paulo, tem havido muitos testemunhos grandiosos de milagres de prosperidade, curas e maravilhas espirituais de pessoas que usaram o lenço!”.

Don Stewart é também um dos grandes defensores do “cair no Espírito”. Ainda sobre seu lenço milagroso, e o motivo de ser “verde”, o ministério explica: “O verde representa a renovação e a prosperidade. Na Primavera as plantas ganham vida e brotam folhas verdes. Nos Estados Unidos o verde é a cor do dinheiro...”.

O apóstolo S. Paulo não tentava controlar o Vento. Não orava por lenços, roupas, fotos e copos com água. Nem a Igreja promovia tais coisas. Aconteceu apenas de algumas peças de seu vestuário ser levadas a doentes, que por fé, foram curados. Foi o Vento! Deus operou “extraordinariamente”, a fim de validar a pregação de Paulo entre os pagãos de Éfeso! Algo semelhante aconteceu com os ossos de Eliseu. “E sucedeu que, enterrando eles um homem, eis que viram um bando e lançaram o homem na sepultura de Eliseu; e, caindo nela o homem e tocando os ossos de Eliseu, reviveu e se levantou sobre seus pés” (II Reis 13.21). Milagres também aconteciam àqueles que tocavam nas vestes de Jesus (S. Mateus 14.36).

Mas há quem queria controlar o Vento, como o costume papista de venerar relíquias de santos – prática que tentam justificar nos “lenços” de Paulo! Aos “evangélicos” que seguem a idolatria da Igreja de Romana deixamos o mesmo recado que Calvino, teólogo da Reforma, deu àqueles: “Os papistas são estúpidos, pois torcem este texto a favor de suas relíquias, como se Paulo tivesse enviado seus lenços para que os homens pudessem adorá-los e beijá-los!” (CALVINO, John; Commentary em Atos; Volume II). E se alguém acha que os "evangélicos" não adoram as relíquias do "circo gospel" é porque ainda não viu os diplomas de dizimistas que andam pregando nas paredes, ou já se esqueceram da imagem de Leão que "ministra só de olhar" que certa família de BH tem na sala. Se não for o bastante, talvez prefiram relembrar a Bota de Piton...

 Interessante que Deus também curou muitas pessoas através da sombra de Pedro, mas curiosamente os curandeiros modernos preferem os “lenços” de Paulo, além de outras “bugigangas” consagradas. Difícil entender tal preferencia, mas, cá entre nós, tenho para mim que “lenços” e similares são mais fáceis de serem rentabilizados...

“Entrou Jesus no Templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no Templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões” (S. Mateus 21.12,13).
PIB-Juína "A casa do Povo de Deus"

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